domingo, 15 de dezembro de 2024

Causos de Crianças


Bruno Paulino

I

Tenho falado muito para crianças em escolas e feiras literárias sobre livros e leitura nos últimos anos; apesar da correria, é a maior benção de Deus na minha vida. Faço isso como recomendava Santa Teresinha: sempre atento aos pequenos sinais e com a seriedade que o momento exige. Uma coisa que tenho aprendido é que as crianças querem que vejamos suas ideias e sentimentos com atenção e respeito – adentremos no seu mundo. Se fizermos isso, elas certamente vão gostar da gente. Dia desses, ao final de um bate-papo sobre meus livros numa escola pública, enquanto a maioria dos alunos queria tirar fotos, selfies e pegar dedicatórias, um garotinho chamado Lucas, de no máximo nove anos, não desvencilhava meu pé. Pedi um minutinho para atender seus colegas e expliquei que logo falaria com ele, que compreensivo entendeu e esperou. Finalmente quando consegui lhe dar a devida atenção, ele me deu um abração apertado e disse:

Só queria te dar um abraço, pois sempre quis conhecer um escritor, e hoje conheci.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Aquiletras é reconhecida como ente de utilidade pública pela Câmara Municipal

Foto: Tarcísio Filho

A cultura quixeramobiense esteve em pauta na manhã desta quarta-feira, 11, em sessão realizada pela Câmara Municipal de Quixeramobim.  

O presidente da casa, vereador Igor Martins, apresentou projeto de lei em regime de urgência simples, que reconhece a utilidade pública da Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes (Aquiletras). O projeto foi levado à discussão após articulação das acadêmicas Goreth Pimentel e Cláudia Oliveira, atual e ex-presidenta da Aquiletras, respectivamente. Uma comitiva de dez acadêmicos compareceu ao plenário, manifestando apoio à iniciativa. A votação resultou na aprovação unânime do Poder Legislativo, reconhecendo, assim, a Aquiletras como ente de utilidade pública.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Casas

Casa de Vidro - de Lina Bo Bardi

Por Eduardo Coutinho

No começo do mês de novembro tirei alguns dias de férias e é certo que, em minhas viagens, sempre estarão incluídas visitas a museus, bibliotecas ou centros culturais. Tudo o que envolve arte me atrai e uma rota que não passa por esses lugares não faz sentido para mim. Mas dessa última vez resolvi fazer um itinerário um pouco diferente. Decidi conhecer algumas casas, que, depois da morte de seus moradores, abriram suas portas para o conhecimento público.

Foi durante as visitações a esses locais que percebi que eu mantinha uma percepção diferente deles. Notei que o mais comum entre as pessoas era comentar sobre os objetos de decoração dispostos pelos cômodos, apontar para os belos quadros pendurados nas paredes, ou perceber a riqueza de um banheiro bem ornamentado com lajotas coloridas. Por outro lado, a minha primeira atenção não era captada por móveis ou decoração, mas eram os retratos das pessoas que viveram ali o que mais atraía o meu olhar.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Quando morre um poeta, todos choram

Antonio Cícero - Foto: Bárbara Lopes

Por Gabrielly Frutuoso

Tomou-me de assalto a triste notícia da morte de Antonio Cícero, formidável compositor, filósofo e poeta. Esta é a primeira semana do mundo sem a claridade de seu pensamento. O imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) subiu aos céus, muito embora ele mesmo não cresse nisso, sendo, pois, ateu. No exato segundo em que meus olhos se depararam com a manchete do jornal, fui consumida por um estranho vazio e um silencio sufocante, como se tivesse perdido um estimado amigo, um velho conhecido. Não deixa de ser. “Quando morre um poeta, todos choram”, diz o samba de Nelson Cavaquinho.

Nos dias que antecederam tal fato, estive obcecadamente debruçada sobre seus artigos publicados na Revista Brasileira, periódico da ABL, bem como em seu blog ‘Acontecimentos’, sem conseguir parar de ler. No entanto, minha relação com o erudito poeta, mágico das palavras, começou bem antes disso, já que era ele o nome por trás das canções de sua irmã, Marina Lima, que foram pano de fundo de muitas noites.
 
“O amor são fogos que se acendem sem artifícios.”

(O lado quente do ser – Antonio Cícero/Marina Lima)

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Notas sobre o Capitão Jagunço


Por Bruno Paulino

A primeira vez que ouvi falar sobre o personagem Capitão Jagunço foi através da música homônima de Luiz Gonzaga (Paulo Dantas e Barbosa Lessa):

 

“Capitão Jagunço/

 Eu gosto de furdunço/

Tem Canudos, por guia das tropas/

 Jogando irmãos contra irmãos”.

 

A composição marca na minha memória, sobretudo, pelo reiterado refrão:

 

“Não é mentira não/

Não é mentira não/

Conselheiro se julgava/

 O Messias do sertão”.

 

Só depois o reencontrei nas páginas célebres de Os Sertões, onde é citado por Euclides Cunha, em dois ou três capítulos:

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Quixeramobiense ou Quixeramobinense: existe forma correta do gentílico?


Por Gabrielly Frutuoso

Sempre que se usa o gentílico para adjetivar os  nascidos em Quixeramobim, verifica-se certa confusão quanto à grafia e pronúncia do termo. A dúvida se dá entre as formas ‘quixeramobinense’ (com -n) e ‘quixeramobiense’ (sem -n). Outros municípios vivem o mesmo dilema da incerteza sobre seu adjetivo pátrio mais adequado, caso de Camocim, Ipaumirim e Jardim, para citar os mais próximos. Para esclarecer a questão, visitei obstinadamente importantes fontes do mundo acadêmico e literário.

Em rápida pesquisa em torno dos sufixos existentes na língua portuguesa, de pronto constatamos que a forma -nense não existe, mas apenas a forma -ense, sem o -n inicial. Mesmo assim, não é raro se deparar com o uso das duas formas – quixeramobinense e quixeramobiense – em correspondências e discursos oficiais no município, questão sobre a qual não há consenso, nem consolidação de uma forma padrão. Obras consagradas também registram as duas formas do gentílico. Em “Quixeramobim – Recompondo a História”, o mais completo documento histórico do município, o professor e historiador Marum Simão faz uso das duas grafias.

Outro intelectual de Quixeramobim, o professor, historiador e genealogista Fernando Câmara preferia a grafia ‘quixeramobiense’ em seus textos, tal como João Saraiva Leão, seu colega no Instituto do Ceará, que também optara pela mesma forma.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Do cometa ao relógio


Por Eduardo Coutinho

É difícil definir o que é o tempo. Vivemos eternamente no presente, criando o passado e esperando o futuro. Essa é a maneira mais intuitiva de descrevê-lo. Durante toda a história da humanidade, religião, filosofia e ciência tentaram elaborar um conceito preciso para ele e até hoje, se alguém pedir para que se diga em palavras o que é o tempo, uma dificuldade imensa se apresentará.

Às vezes, quando a linguagem falha, podemos recorrer às sensações, porque, na experiência, muito do que é percebido concerne ao indefinível. E o tempo para mim é assim, mais sentido do que dito. Quando leio uma notícia de um fato ocorrido há décadas, de certa forma me conecto com aquela época. Imaginando-a agora, ela passa a existir novamente.