quinta-feira, 29 de junho de 2023

Máquina do Tempo

Foto: Zeca Fotógrafo

Acredito que quando Zeca Fotógrafo fez esse registro, ele não imaginou que sua fotografia seria percebida no futuro como uma espécie de máquina do tempo. Assim como nós, que vivenciamos o tempo presente, não ficamos pensando o que os quixeramobinenses do século XXII pensarão das banalidades que fazemos agora, o fotógrafo do século XX apenas registrava um momento trivial, um divertido passeio pela ponte.
 
Mas essa foto me faz imaginar algo a mais. Para mim, a moça está na verdade, na fronteira de uma máquina do tempo, chegando à porta aberta que separa o nosso presente do passado, e o presente dela do futuro.
 
No meio da Ponte Metálica, o espaço-tempo parece se dilatar, desfocando a imagem. Um caótico fluxo temporal, que interliga presente, passado e futuro, faz a moça levitar, esvoaçando sua saia. Abrindo os braços, ela sorri, e parece nos convidar para conhecer a Quixeramobim dela, bucólica, silenciosa, pacífica, vila, onde todos se conhecem, onde as tamarineiras ainda têm um metro e meio de altura, e as ruas são de terra batida.
 
No final da espiral de ferro fundido da ponte metálica, naquele quadradinho do fundo da foto, está a Quixeramobim de 1940. Como eu queria atravessá-lo, transpondo o tempo, e caminhar pelos campos verdes que circundavam o Mercado Central. Ver a Praça Comendador Garcia com seus postes em estilo colonial e seus bancos de ferro e madeira em meio às flores coloridas dos canteiros. Ter um momento de prosa com o eloquente Doutor Álvaro Fernandes, com seus óculos pincenê seguros pelo nariz, sentados na varanda do seu imponente sobrado. Que fantástico seria! Como eu queria que a ponte metálica fosse nossa máquina do tempo!
 
Enquanto fico imaginando tudo isso, aproveito os lampejos do passado nas fotografias do Zeca Fotógrafo.

Eduardo Coutinho
Instituto Quixeramobim Histórico

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