Foto: Zeca Fotógrafo |
Acredito que quando Zeca Fotógrafo fez esse registro, ele não imaginou que sua fotografia seria percebida no futuro como uma espécie de máquina do tempo. Assim como nós, que vivenciamos o tempo presente, não ficamos pensando o que os quixeramobinenses do século XXII pensarão das banalidades que fazemos agora, o fotógrafo do século XX apenas registrava um momento trivial, um divertido passeio pela ponte.
Mas essa
foto me faz imaginar algo a mais. Para mim, a moça está na verdade, na
fronteira de uma máquina do tempo, chegando à porta aberta que separa o nosso
presente do passado, e o presente dela do futuro.
No meio
da Ponte Metálica, o espaço-tempo parece se dilatar, desfocando a imagem. Um
caótico fluxo temporal, que interliga presente, passado e futuro, faz a moça
levitar, esvoaçando sua saia. Abrindo os braços, ela sorri, e parece nos
convidar para conhecer a Quixeramobim dela, bucólica, silenciosa, pacífica,
vila, onde todos se conhecem, onde as tamarineiras ainda têm um metro e meio de
altura, e as ruas são de terra batida.
No final
da espiral de ferro fundido da ponte metálica, naquele quadradinho do fundo da
foto, está a Quixeramobim de 1940. Como eu queria atravessá-lo, transpondo o
tempo, e caminhar pelos campos verdes que circundavam o Mercado Central. Ver a Praça
Comendador Garcia com seus postes em estilo colonial e seus bancos de ferro e
madeira em meio às flores coloridas dos canteiros. Ter um momento de prosa com
o eloquente Doutor Álvaro Fernandes, com seus óculos pincenê seguros pelo
nariz, sentados na varanda do seu imponente sobrado. Que fantástico seria! Como
eu queria que a ponte metálica fosse nossa máquina do tempo!
Enquanto
fico imaginando tudo isso, aproveito os lampejos do passado nas fotografias do
Zeca Fotógrafo.
Eduardo Coutinho
Instituto Quixeramobim Histórico
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