Sou um curioso apaixonado por tudo que diz respeito a vida de Antônio Conselheiro (1830-1897) e ao drama da Guerra de Canudos. E, embora seja católico adoro ler sobre o espiritismo e temáticas afins. Assim sendo, foi tomado por entusiasmado que li pela primeira vez as informações a seguir, coletadas da biografia “Bezerra de Menezes: O homem, seu tempo e sua missão” (2021) de Luciano Klein Filho. Comprei o livro na Bienal do livro de Fortaleza (2022), um gigantesco volume com mais de mil páginas, que antes de mais nada, me fez questionar: “como alguém consegue escrever tanto sobre a vida de outra pessoa?”. Soube depois que o autor dedicou 30 anos a pesquisa.
Desse modo, o que destaco nessa crônica-resenha, na verdade são curiosidades históricas para quem investiga a saga do Beato Conselheiro ou se inspira na trajetória luminosa de Adolfo Bezerra de Menezes (1831- 1900), sem dúvidas nenhuma, um dos nomes fundamentais da história do espiritismo no Brasil no século XIX. À pagina 145, no referido livro, o historiador revela:
“A avó de Bezerra, Ana Maria da Costa, esposa do Coronel Antônio Bezerra de Sousa Menezes, era tia-avó de Antônio Conselheiro, figura principal do drama do movimento de Canudos, ocorrido na Bahia, nos primeiros anos do regime republicano. Adolfo e Antônio Vicente Mendes Maciel, eram, portanto, parentes. Tinham praticamente a mesma idade, havendo grande possibilidade de os dois terem se encontrado na infância, na cidade de Quixeramobim, onde residiam alguns familiares de Bezerra. Numa cidade pequena, naqueles tempos, quase todos se conheciam, o que não torna improvável que as duas crianças, em algum momento, possam ter mantido contato ou brincado juntas”. Aponta o historiador ainda que: “Á propósito do casamento de Antônio Conselheiro, ocorrido em 7 de janeiro de 1857, foi celebrado pelo Padre José Jacinto Bezerra de Menezes, filho de Ana Bezerra, irmão do Desembargador Francisco de Assis Bezerra e primo de Adolfo”.
Inquestionavelmente a família Bezerra de Menezes desenvolveu fortes laços em Quixeramobim, por isso ressaltamos também que Antônio Bezerra de Menezes, naturalista e historiador, mais conhecido por Antônio Bezerra (1841–1921) - ou seja, dez anos mais moço que o tio médico e espírita Bezerra de Menezes - nasceu na cidade. Foi sócio fundador do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, tendo grande atuação intelectual na sociedade cearense. Especula o historiador Luciano Klein que em suas viagens à corte, Antônio Bezerra de Menezes hospedava-se na casa do tio Adolfo, e nisso devem ter conversado muito sobre assuntos relacionados às ciências naturais e às novidades da história do Ceará.
Acredito que numa sociedade hoje tão carente de exemplos dedicados à solidariedade, Antônio Conselheiro e Bezerra de Menezes são, de fato, duas referências inquestionáveis de dedicação e apostolado aos desvalidos. É oportuno, portanto, lembrar suas lutas e legados. Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, “O Taumaturgo dos Sertões”, pregador leigo católico-romano-popular do Nordeste, “que tanto cresceu que se projetou na história” como vaticinou Euclides da Cunha com sua pena brilhante, sempre foi um vocacionado para a verdadeira caridade e a luta social; assim como o espirita Bezerra de Menezes, “O Médico dos Pobres”, “O Kardec Brasileiro”, que encarnou como poucos o famoso lema central da doutrina espírita de que “fora da caridade não há salvação”.
É como dizem: para se fazer o bem ao próximo não importa, e não precisa ter qualquer religião.
Por fim, cabe ainda destacar que o livro de Luciano Klein Filho é inquestionavelmente uma leitura que ajuda a pensar o mistério da fé no Brasil. Fruto de acurada pesquisa é uma narrativa ágil e envolvente que nos permite encontrar Bezerra de Menezes por inteiro. Fundamental também como fonte para quem quiser conhecer um pouco da politica do Brasil e do Ceará no “oitocentos”. Pois nada escapa ao olhar atento do dedicado e competente pesquisador.
Por Bruno Paulino, escritor.
Crônica maravilhosa. Parabéns ao escritor Bruno Paulino. Sou sobrinha - bisneta de Adolfo Bezerra de Menezes. Meu bisavô materno, Manoel Soares da Silva Bezerra - pai do historiador Antônio Bezerra que era irmão de meu avô João Batista Bezerra. Compartilhe essa crônica na minha página do facebook.
ResponderExcluirNo fecebook meu nome é Lúcia Bezerra de Paiva. Grata, pela bela crônica.
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