A primeira vez que ouvi falar sobre o personagem Capitão Jagunço foi através da música homônima de Luiz Gonzaga (Paulo Dantas e Barbosa Lessa):
“Capitão Jagunço/
Eu gosto de furdunço/
Tem Canudos, por guia das
tropas/
Jogando irmãos contra irmãos”.
A
composição marca na minha memória, sobretudo, pelo reiterado refrão:
“Não é mentira não/
Não é mentira não/
Conselheiro se julgava/
O Messias do sertão”.
Só
depois o reencontrei nas páginas célebres de Os Sertões, onde é citado
por Euclides Cunha, em dois ou três capítulos:
Em marcha para Canudos.
“Alguém, entretanto, salvou a lealdade sertaneja, o guia Domingos Jesuíno. Conduziu as tropas para a frente até o ”Rancho das Pedras”, onde acamparam (...)”.
Crítica
“Ninguém cogitava na mais passageira hipótese de um revés. A exploração realizada fora até um transigir dispensável com as velharias da estratégia: bastava o olhar perspícuo do guia, Capitão Jesuíno, para aclarar a rota (…)”
Dois cartões de visita ao Conselheiro
“O guia Jesuíno, consultado, apontou com segurança a direção do arraial. Moreira César pôs em batalha a divisão Pradel e, graduada a alça de mira para três quilômetros, mandou dar dois tiros segundo o rumo indicado (…)”.
Do
pesquisador euclidiano, Paulo Dantas, li O Capitão Jagunço, um excelente
romance do autor que também escreveu sobre a personagem Joana Imaginária.
O estudioso Adelino Brandão em comentário sobre o livro destaca que: “O
personagem-título é real. Viveu o drama de Canudos e passou à história sob a
acusação de ter traído os companheiros. A guerra contada pelo lado interno, por
um grande jornalista, prosador e homem do sertão”. No romance é importante
destacar que o personagem é nomeado por Jerônimo, quando na realidade se
chamava Jesuíno Correia Lima.
O professor Marco Antonio Villa, ao organizar o livro Canudos, História em Versos, do poeta Manoel Bombinho – Delegado de polícia que acompanhou tropas até Canudos – numa nota explicativa sobre a biografia de Jesuíno Correa (o personagem é várias vezes citado ao longo do poema), informa que ele era Capitão da Guarda Nacional, e morou em Canudos alguns meses, mas teria sido expulso; segundo o tenente Macedo Soares, o motivo seria o fato dele ser eleitor republicano em Piranhas. Já segundo versão recolhida por José Calasans nos anos 50 entrevistando Pedrão, um dos combatentes sobreviventes da guerra, Jesuíno foi obrigado a deixar a comunidade, pois teria tentado conquistar uma mulher casada. A partir de então, transformou-se em um inimigo mortal de Antônio Conselheiro.
O poeta Manoel Bambino assim versejou sobre o Capitão Jagunço:
“De Piranhas O Capitão Jesuíno/
Para Canudos residência mudou/
Vivia tranquilo e contente/
Gostou de canudos e gostou/
Mas um dia os jagunços entenderam/
Jesuíno? É um bom espião/
Do governo ele veio mandado/
Para fora taful Capitão.”
Outra
obra importante, com cunho de depoimento histórico em que o personagem Capitão Jagunço figura com destaque é Canudos:
memórias de um combatente, do brigadeiro Marcos Evangelista da Costa
Villela Jr., que lutou contra Canudos na terceira e quarta expedições, no seu
relato o militar destaca que: “Jesuíno apresentou-se ao coronel Moreira
Cesar para ser cicerone da coluna, declarando também que queria, quando
entrasse a coluna em combate, uma carabina e munição, pois tinha fé em Deus não
morrer enquanto não se encontrasse com o negro Pajéu para tê-lo como presa
sua”.
Por fim, para quem quer saber mais sobre o assunto, recomendo o artigo da eminente professora Luitgarde Oliveira, UM FUZIL NA GUERRA DE CANUDOS: memória de violência na paz do Conselheiro, que é facilmente encontrável na internet, no qual através da pesquisa oral, ela elucida bastantes fatos e mitos sobre Jesuíno Correa Lima, o Capitão Jagunço.
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