segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Notas sobre o Capitão Jagunço


Por Bruno Paulino

A primeira vez que ouvi falar sobre o personagem Capitão Jagunço foi através da música homônima de Luiz Gonzaga (Paulo Dantas e Barbosa Lessa):

 

“Capitão Jagunço/

 Eu gosto de furdunço/

Tem Canudos, por guia das tropas/

 Jogando irmãos contra irmãos”.

 

A composição marca na minha memória, sobretudo, pelo reiterado refrão:

 

“Não é mentira não/

Não é mentira não/

Conselheiro se julgava/

 O Messias do sertão”.

 

Só depois o reencontrei nas páginas célebres de Os Sertões, onde é citado por Euclides Cunha, em dois ou três capítulos:

Em marcha para Canudos.

        “Alguém, entretanto, salvou a lealdade sertaneja, o guia Domingos Jesuíno. Conduziu as tropas para a frente até o ”Rancho das Pedras”, onde acamparam (...)”.

Crítica

        “Ninguém cogitava na mais passageira hipótese de um revés. A exploração realizada fora até um transigir dispensável com as velharias da estratégia: bastava o olhar perspícuo do guia, Capitão Jesuíno, para aclarar a rota (…)”

Dois cartões de visita ao Conselheiro

        “O guia Jesuíno, consultado, apontou com segurança a direção do arraial. Moreira César pôs em batalha a divisão Pradel e, graduada a alça de mira para três quilômetros, mandou dar dois tiros segundo o rumo indicado (…)”.

Do pesquisador euclidiano, Paulo Dantas, li O Capitão Jagunço, um excelente romance do autor que também escreveu sobre a personagem Joana Imaginária. O estudioso Adelino Brandão em comentário sobre o livro destaca que: “O personagem-título é real. Viveu o drama de Canudos e passou à história sob a acusação de ter traído os companheiros. A guerra contada pelo lado interno, por um grande jornalista, prosador e homem do sertão”. No romance é importante destacar que o personagem é nomeado por Jerônimo, quando na realidade se chamava Jesuíno Correia Lima.

O professor Marco Antonio Villa, ao organizar o livro Canudos, História em Versos, do poeta Manoel Bombinho – Delegado de polícia que acompanhou tropas até Canudos – numa nota explicativa sobre a biografia de Jesuíno Correa (o personagem é várias vezes citado ao longo do poema), informa que ele era Capitão da Guarda Nacional, e morou em Canudos alguns meses, mas teria sido expulso; segundo o tenente Macedo Soares, o motivo seria o fato dele ser eleitor republicano em Piranhas. Já segundo versão recolhida por José Calasans nos anos 50 entrevistando Pedrão, um dos combatentes sobreviventes da guerra, Jesuíno foi obrigado a deixar a comunidade, pois teria tentado conquistar uma mulher casada. A partir de então, transformou-se em um inimigo mortal de Antônio Conselheiro.

O poeta Manoel Bambino assim versejou sobre o Capitão Jagunço:

 

“De Piranhas O Capitão Jesuíno/

Para Canudos residência mudou/

 Vivia tranquilo e contente/

Gostou de canudos e gostou/

 

Mas um dia os jagunços entenderam/

Jesuíno? É um bom espião/

Do governo ele veio mandado/

Para fora taful Capitão.” 

Outra obra importante, com cunho de depoimento histórico em que o personagem  Capitão Jagunço figura com destaque é Canudos: memórias de um combatente, do brigadeiro Marcos Evangelista da Costa Villela Jr., que lutou contra Canudos na terceira e quarta expedições, no seu relato o militar destaca que: “Jesuíno apresentou-se ao coronel Moreira Cesar para ser cicerone da coluna, declarando também que queria, quando entrasse a coluna em combate, uma carabina e munição, pois tinha fé em Deus não morrer enquanto não se encontrasse com o negro Pajéu para tê-lo como presa sua”.

Por fim, para quem quer saber mais sobre o assunto, recomendo o artigo da eminente professora Luitgarde Oliveira, UM FUZIL NA GUERRA DE CANUDOS: memória de violência na paz do Conselheiro, que é facilmente encontrável na internet, no qual através da pesquisa oral, ela elucida bastantes fatos e mitos sobre Jesuíno Correa Lima, o Capitão Jagunço.  


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