Estou sempre insatisfeito. Sou um tremendo crítico de tudo aquilo que já escrevi e publiquei. O texto que saiu antes de estar devidamente revisado, uma vírgula que foi mal colocada, uma letra que faltou naquela palavra, a concordância que não concordou. Tudo me incomoda. É conhecido o episódio do Euclides da Cunha, corrigindo obsessivamente a primeira edição de Os Sertões, a próprio punho; e o medo que ele tinha da recepção da obra junto aos leitores. Medo que acabou por se mostrar “infundado”, pois o livro foi um retumbante sucesso de crítica e público. Não sou um obsessivo como o Euclides, mas, como disse, sou um crítico “mordaz” do que já me atrevi a escrever.
Acredito
que é normal sentir essa "culpa" (com todo o peso da tradição
cristã-judaico-ocidental sobre as costas), por isso eu lembro que Lygia
Fagundes Telles dizia para esquecermos o primeiro livro dela, e assim conforto
meu inquieto espírito. A escritora Ângela Gutierrez afirmou numa entrevista que
o primeiro livro não é um parto normal, é um aborto. Ou seja, é algo que ganha
o mundo, por uma série de questões, meio forçado, a fórceps - principalmente
quando se é jovem. Escrevi e publiquei o
meu primeiro livro, Lá nas Marinheiras e outras Crônicas (2011), muito
jovem e o parto foi a fórceps. Cheio de ansiedade e pressa, com uma péssima
revisão. Não me arrependo, nem me orgulho do livro. É um sentimento estranho
que tenho com ele, nem gosto, nem desgosto. Hoje me é quase indiferente o
opúsculo.
Jorge
Amado explicava, e concordo integralmente com ele, que “pode haver muita
deficiência no livro de um jovem, mas haverá também nele uma coisa fundamental
– a força da juventude”. Tirando os aprendizados que tive, “a força da
juventude”, a vontade de realizar, e alguns comentários “elogiosos” e
“incentivadores” de escritores mais velhos e abalizados, em cuja sinceridade da
opinião confio, a sua publicação, naquele momento, foi um grande erro. O livro
tem textos que me agradam, que hoje assinaria novamente, mas outros escritos
que lá estão, eu jamais publicaria daquela forma, sem uma revisão mais
abalizada.
Mas como saber disso
tudo agora, se não tivesse publicado o livro aquela época?
Fico pensando: é
muito bom a gente ter um erro na vida, quando sabemos extrair dele as lições
necessárias para avançar e evoluir.
E o primeiro livro, às vezes, a gente esquece.
Por Bruno Paulino
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