terça-feira, 11 de julho de 2023

Marum Simão não apenas fundou a academia: ele é a academia

Foto: Arquivo João Bosco Fernandes

Descendente de uma família de libaneses, Marum Simão nasceu em Quixeramobim, em 1934, filho de José Simão Abu Marrul e Maria Alice Simão. Construiu uma notória carreira na educação, indo de professor do primário à universidade, até chegar a secretário municipal em sua cidade natal. Em 1996, publica sua obra mais importante: “Quixeramobim – Recompondo a História”, sendo um dos principais referenciais de pesquisa para quem estuda Quixeramobim e, por conseguinte, a história do Ceará.

Em 2015, funda a Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes (AquiLetras), ao lado de João Bosco Fernandes Mendes. A contribuição de Marum Simão para a academia é sem par, a começar pela própria fundação do colegiado de intelectuais. Como membro-fundador, Marum foi o primeiro Diretor de Pesquisas Científicas, Geografia e História da academia, sendo João Bosco Fernandes o primeiro presidente.

“Tive o privilégio de trabalhar alguns anos com o professor Marum na Secretaria de Educação. Ele não era só um chefe, era um líder. Ensinava e aprendia com a gente. Um dia, do nada, ele me falou: - aprendo muito com você também, aprendi com dar 'o pulo do gato'. Ele ficava me observando quando eu recebia os gestores com alguma reivindicação que momento não podíamos atender. Eu nunca dava um não, sempre dava alternativas para resolver o problema. Esse era o ‘pulo do gato’. Parafraseando Guimarães Rosa: "mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente, aprende". Até logo, meu mestre e amigo. Obrigada pelo aprendizado!” 

- Cláudia Oliveira, historiadora e presidenta da AquiLetras

A academia não é apenas um colegiado das forças intelectuais de um lugar. Reconhecer e premiar os saberes individuais, selando essa constatação com o título de “imortal”, faz parte do protocolo. No entanto, seu papel vai para além disso: é uma chama viva que estimula novos pensadores. Se é verdade que ‘o exemplo arrasta’, Marum arrastou os mais de trinta acadêmicos desta Aquiletras, e arrasta, por meio de suas obras, quase todas esgotadas em tiragem, mas inesgotáveis no tempo, novos educadores, memorialistas pesquisadores, e, acima de tudo, novos cidadãos, interessados em entender o contexto que lhes constitui no mundo. Dito isso, podemos concluir que Marum Simão não é, tão somente, um fundador da academia; ELE É A ACADEMIA, por assim dizer, logo, fez do saber e da disseminação dele, a sua missão maior de vida.

“Falar do legado de Marum Simão seria redundante. O próprio Marum é um legado. Uma vida dedicada a documentar sua terra-mãe, sendo o livro ‘Quixeramobim – Recompondo A História’, de 1996, o portal para todo aquele que deseja entender o Quixeramobim, sob seus aspectos culturais, econômicos, históricos, geográficos e sociais, pesquisa esta que se desdobrou em outras obras de igual importância. Tive contato com a publicação ainda na adolescência, quando fui tomada pelo mesmo ardor memorialista que Marum Simão cultivou por toda a vida. Desconfio que seja essa sua maior herança para todos nós: o desejo pelo saber, pela descoberta, além do respeito profundo pela história que nos constitui como indivíduos e como povo coletivo.” 

- Gabrielly Frutuoso – radialista
 
Livro Quixeramobim - Recompondo a História
Marum Simão (1996)

A obra de Marum Simão certamente ficará para a posteridade. Felizmente, o pesquisador conseguiu deixar pronta uma segunda edição de seu livro mais difundido, publicação já aguardada com expectativa pelo público. O escritor e professor Bruno Paulino, classifica a pesquisa como ‘uma espécie de bíblia da história de Quixeramobim’.

“Com o falecimento do querido professor Marum Simão, Quixeramobim perdeu hoje seu mais destacado biógrafo, o mais dedicado pesquisador de sua história. Marum foi mestre de várias gerações. Nos últimos ano, num trabalho minucioso, dedicou-se a revisar e ampliar seu livro “Quixeramobim: Recompondo a História’, trabalho de fôlego, que espero possa ver publicado.” 

- Bruno Paulino, escritor
 
O promotor de justiça Ricardo Machado ressalta o vínculo de amizade com Marum Simão e como colaborou com seus trabalhos de pesquisa.

"Com ele, trabalhamos, em 1985/86, na Fundação Educar, vinculada ao Ministério da Educação e, em época mais recente, tornamo-nos confrades com cadeiras na AquiLetras. Em suas atividades de historiador/pesquisador, seu maior legado consiste no livro “Quixeramobim - Recompondo a História”, obra com a qual pude contribuir, a exemplo de outros e de modo singelo, como crítico e revisor. Guardo em meu computador os originais do livro. Neste apressado relicário em que expresso minha saudade, solidariedade aos familiares e reconhecimento público, quantas vezes escrevi a palavra 'educação'? Fica o maravilhoso legado, a semeadura do exemplo, a pedagogia que alimenta a alma, transforma e faz o mundo melhor. Viva Professor Marum!” 

- Ricardo Machado, promotor de justiça
 
Apesar de ser seu livro mais destacado, “Quixeramobim – Recompondo a História” é só mais uma dentre tantas pesquisas de Marum Simão que se tornaram públicas. Além deste, podemos citar: Centenário de Os Sertões (2002); Três Vultos Idênticos – Pe. Ibiapina, Antônio Conselheiro e Pe. José Van Esch (2005); Cartilha Quixeramobim Nas Escolas (2009); Madalena Reconstituindo a História (2010), dentre outros.
 
Na educação, construiu grande parte de sua carreira no Ginásio e Escola Normal Dom Quintino, no Colégio Estadual Dr. Andrade Furtado e na Universidade Vale do Acaraú (UVA).  Mais tarde, funda e torna-se diretor da Fundação Universitária do Sertão Central (UNICENTRO). Tem seus méritos como educador e pesquisador selados por meio da Medalha Antônio Conselheiro, outorgada pela Prefeitura Municipal de Quixeramobim.
 
“Professor Marum deixa como legado diversos profissionais da educação, que com ele aprenderam a exercer também esse importante mister. Uma referência na pesquisa sobre Quixeramobim, que merece todas as homenagens e reconhecimentos.” 

- Pedro Igor Azevedo, advogado e gestor da Casa de Antônio Conselheiro

Marum Simão faleceu por voltas das 7h da manhã desta terça-feira, 11/07, aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes de um câncer. Ele já vinha internado em uma unidade privada na capital para tratamento, mas não resistiu. 
Nas mídias sociais, o Prefeito Municipal, Cirilo Pimenta lamentou a morte e agradeceu pelos bons préstimos do professor. “Todos somos seus eternos alunos”, concluiu. 

Na AquiLetras, Marum Simão ocupou a cadeira nº 02, tendo como patrono Ismael Pordeus Costa Lima.

Da redação
Gabrielly Frutuoso

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