sexta-feira, 21 de julho de 2023

Dicionários e Mentecaptos


Esse negócio de palavra é apaixonante. 

Eu tinha uns 12 anos e ganhei um dicionário Aurélio grandão. Ficava lendo, andando com o dicionário para tudo que é lugar, enquanto buscava conhecer palavras diferentes. Gostava de decorar termos impopulares e no meio de uma conversa de adultos me intrometer, e sair com um "auspicioso", um "beócio" ou ainda um "pacóvio". 

E todo mundo se perguntava: de onde esse menino tira essas palavras? 

Confesso: sempre quis chamar atenção por me fazer parecer inteligente. Ainda hoje, apesar da internet e a facilidade do oráculo Google, gosto de visitar o meu exemplar do “pai dos burros”. Gosto, sobretudo, de ritualisticamente abrir numa página a esmo e ir encontrar palavras sem pretensão; e de repente, me esbarrar admirado com o termo "logosofia", e ficar um tempão bestando com a sonoridade e o significado. Esse hábito de ainda consultar dicionários ao escrever e ler me fez pensar sobre a praticidade e o ritmo acelerado em que vivemos; e creio que, cada vez mais se faz necessário “tempo” para “defluir como um rio” e se afeiçoar a novos vocábulos. 

No passar das páginas, no correr do relógio, folheando o dicionário, palavra-puxa-palavra; distraído, perco-me entre tantas outras que desconheço o significado e acho bonitas. Anoto e marco todas aquelas que me chamam atenção para compor novos poemas ou citar em novos textos. É o ritual de iniciação da palavra ao meu repertório. 

Minha mãe é que falava que eu iria ficar doido com esse negócio de falar palavras “difíceis” e andar com dicionários: 

“- Menino, deixa dessa invenção de dizer palavra estranha. O povo nem entende...”. 

Acho que ela acertou na sua previsão de que eu iria ficar doido. 

Aceito sem relutância o adjetivo de anacrônico. 

E talvez, sem me dar conta, também tenha virado realmente um grande “mentecapto”, com essa mania de decorar palavras nos dicionários. 

Por Bruno Paulino

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